A adolescência resume-se, simplesmente como, a decisão de tudo, tanto do nosso próprio eu como de tudo o que daí advenha. Mente quem diga que esta fase é a mais fácil e a melhor da vida… apesar de ter apenas vivido uns poucos anos, ou talvez anos suficientes, a visão que temos do futuro tende a ser melhor, por mais que a vida seja complicada.
Uma altura em que tudo começa a fazer sentido, ou apenas quando nos começamos a aperceber da complexidade do mundo e do nosso próprio ser, da complexidade das pessoas que nos rodeiam, do mundo à nossa volta do qual não podemos escapar, sequer pensar em fugir. Somos influenciados por todos os lados, e por mais que queiramos fugir, torna-se uma tarefa quase impossível de se concretizar. Todos nos dizem o que fazer, como agir, como pensar… e se já soubermos como queremos agir, pensar e actuar? E se tudo o que nos obrigam a acreditar deixar de fazer sentido de um segundo para o outro, como se o tempo não existisse, como se o passado se tivesse evaporado, e o presente, mais do que nunca, fizesse todo o sentido e decidisse tudo o que há para decidir nesta complicada vida de ilusões e estereótipos, em que o mais importante é ignorado e as futilidades são o aspecto mais crucial do atingir da plenitude do ser humano?
Talvez exista um mundo paralelo, um mundo menos complicado, um mundo tão perto e tão longe ao mesmo tempo que me impede de alcançá-lo, por mais que tente. Um mundo dentro do meu próprio ser criado por uma questão de sobrevivência… sim, porque eu não vivo, tento sobreviver. Viver é lutar por uma coisa tão simples e tão fútil como o dinheiro? É acordar todas as manhãs e repetir a mesma rotina para atingir um melhor futuro? De melhor nada terá, pois nunca deixaremos esta maldita rotina que nos mata aos poucos e poucos e que nos rouba todos os pequenos segundos que nos restam para viver, que vão acabando sem sequer dar-mos conta, enquanto tentamos sobreviver nesta miserável vida. Com que finalidade? Não existe nada mais para além do amanhã, nada podemos fazer pelo amanhã… o passado e o futuro não faziam sentido se não houvesse presente e é aqui, no presente, que devemos viver, ou pelo menos tentar, porque nada se consegue sem um pouco de suor ou talvez uma gota de sangue, que nos permite erguer das trevas e encontrar forças para conseguirmos percorrer este sinuoso caminho pelo qual estamos envolvidos, “amaldiçoados”, destinados. O passado e o futuro são uma consequência do presente!
Somos nós que fazemos a nossa própria vida, somos nós que a vivemos da maneira que melhor entendermos e está errado quem, que por qualquer razão nos disser que erramos na nossa maneira de viver, porque a vida é o que fazemos com ela, e se alguém tiver alguma coisa contra, é porque não conseguiu atingir a razão pela qual lutamos todos os dias da nossa vida, a felicidade.
Descoberta… talvez. Incerteza… se me pedissem para resumir a adolescência numa palavra, esta seria com certeza a palavra, incerteza. Incerteza do presente, do passado, do nosso ser, da nossa vida, do eu presente em todas as coisas que fazemos ou dizemos, em todos os nossos actos que, apesar de parecerem inconscientes ou submissos, podem querer dizer muita coisa, podem demonstrar o despertar, finalmente, de um ser há muito envolvido pela escuridão e que por fim conseguiu encontrar a luz que tanto almejava, a luz que há tanto ansiava, que há tanto procurava. As feridas não se conseguem ver ao mais simples olhar, pois estas são muito mais que feridas, são palavras, actos e ideias cravados na carne, na alma, no espírito, que dilaceram todos os ideais que sonhamos alcançar, que se revelam inalcançáveis, que moldam a nossa maneira de ser, de pensar, de imaginar, de viver e que nos mostram o quão tão sinuoso é este o caminho que percorremos há tão pouco, ou mesmo há demasiado tempo para perceber todas as pequenas batalhas que teremos de enfrentar nesta infinita guerra pelo nada, pois se realmente existisse algo palpável, que realmente fizesse sentido lutar, esta guerra deixaria de fazer sentido e tudo se resumiria à mais pura realidade.
Sou como um guerreiro há demasiado tempo ferido, numa destas batalhas pelo meu ser, rastejando pela vida, sobrando apenas uma réstia de força, ou talvez esperança, que me leva a enfrentar dia após dia sem cessar, pois apesar de não serem imortais, só assim se mostram os verdadeiros guerreiros.
A adolescência é como o acordar, o acordar de um sonho que se mostrou demasiado longo e que nos leva ao estremecer da alma, do choque que é encarar a realidade a que fomos sujeitos e forçados a viver, que apesar de não ser aquela há que tanto tempo esperávamos, é aquela com que temos de tentar viver. Esta descoberta pode revelar-se surpreendente e terrível ao mesmo tempo, como se a nossa alma tivesse sido dilacerada por algo que não compreendemos, por algo em que nos recusamos a acreditar.
Todos nos mostram a razão… a razão de quê? A razão reside apenas na mente de quem acredita, pois não existe tal coisa como a razão. Só o que realmente acreditamos faz sentido e é isso que devemos seguir, tentar alcançar e recusarmo-nos a desistir de a procurar, pois no dia em que isso acontecer, estaremos destinados à morte. Morte, libertação suprema e futuro ao qual não podemos fugir, a única certeza que temos na vida e que nos rouba todo o tempo que temos para viver. De um momento para o outro, tudo deixa de existir, e todas as futilidades e razões criadas deixam de fazer sentido, e mergulhamos na imensidão do nada, onde nada existe, nada somos, nada almejamos, e finamente, tudo faz sentido. Vivo em função de morais aparentes, criada por razões aparentes, em função de ideais aparentes.
Uma das primeiras coisas que nos ensinam é que existem dois lados: o bem e o mal. Agora posso afirmar que existe um terceiro, um verdadeiramente correcto e que reside no equilíbrio entre esses dois lados, onde o Anjo e o Demónio vivem em conformidade e em harmonia, onde a paz interior foi finalmente atingida, e onde tudo o que me foi ensinado não mais faz sentido algum. Tudo se resume ao equilíbrio, é o equilíbrio que pretendemos, que tanto procuramos… o equilíbrio espiritual.
É este equilíbrio que procuramos nesta fase da vida, tarefa que se demonstra difícil de transpor, sequer suportar, e que nos leva à exaustão, que nos leva à procura de forças no mais insignificante acto… um abraço, uma palavra, um olhar. É nas pequenas coisas da vida que encontramos a verdadeira força e a verdadeira razão da vida. A vida é feita de pequenas coisas, e são essas pequenas coisas que temos de juntar para se tornar sim, em algo marcante e importante para conseguir, finalmente, dar rumo à vida e assim, não mais deixá-la à deriva sem incertezas e onde a inquietação reinava.
Os dias passam, as morais mantêm-se. Estou farto de imposições e de ensinamentos por parte de quem nada sabe, nada compreende, nada percebe… procuro a verdade. Verdade que procuro, não nas pessoas, mas sim no infinito céu, em cada gota de chuva que cai, em cada relâmpago de uma noite atribulada, em cada raio de sol, em cada pôr-do-sol… e cada vez mais me convenço que esta se tem revelado uma missão impossível, uma tarefa tão almejada como impossível de se realizar. Por isso digo para não me tentarem impingir uma verdade da qual nada sabem, nada compreendem, nada percebem. Acredita nos que procuram a verdade, duvida dos que a encontraram.
Até aqui era tudo como uma tela branca, branca de ignorância, inocência, ilusão. Agora tudo torna-se real e começamos a tomar os nossos próprios passos pintando esta tela de forma a exprimirmos toda a nossa sabedoria retirada desta vida, do ser, do estar, do existir. Mais ou menos colorida, tudo depende do estado de espírito e do que fazemos com esta vida, que por sinal, só nos é dada uma vez para toda a eternidade. Somos alguém por anos, e uma eternidade sendo apenas nada. Devemos dar um significado a esta vida para marcarmos a história resumindo esta eternidade a algo, por mais insignificante que seja, mas que faz toda a diferença nesta tão cruel existência. Crescemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos. Tudo se resume a isto, tudo se volta a repetir num ciclo interminável da existência sem volta a dar. Temos que conviver com o que nos é dado, com o que nos forçam a acreditar e tirar o melhor partido disso, pois não adianta recuar, desistir, cessar, ainda não foi descoberto o caminho para a verdade e tudo se resume à incerteza, à desconfiança, à descrença, e enquanto isso caminhamos, de lado nenhum para nenhum lado, pois encontramo-nos num beco sem saída, numa prisão criada por nós próprios, sem saída. A vida é como uma tela branca, tudo o que temos de fazer é escolher as nossas cores preferidas e pintá-la.
Ao longo de toda a vida, todos os nossos passos ficarão marcados no nosso ser, como pegadas na lua impossíveis de apagar, que marcarão não só o passado, bem como o presente e o futuro, pegadas das quais não podemos escapar. Se a procura do nosso ser é complicada, e se é nesta fase da nossa vida que o fazemos, bem, não serão precisas palavras, se é que alguma vez as tenham inventado, para descrever o quão difícil se pode tornar esta tão pequena e tão grande caminhada que nos leva a um futuro incerto e sem saída ou destino, algo para o qual vivemos, que se resume a um fim, tão incerto como a própria incerteza e que nos prende os movimentos, levando-nos à loucura dos sentidos, querendo sentir tudo sem sequer imaginar o que se sente, querendo tirar o maior partido desta vida não percebendo o que se adquire dela, sem perceber o porquê das coisas, dos sentimentos, da ansiedade, da inquietação.
Querendo viver tudo, é assim que encaramos a vida, e por vezes sem sermos compreendidos. Há coisas para as quais já nascemos ensinados, que apesar de não o compreendermos ou percebermos, porquê contrariar? Tudo o que se faz tem como objectivo sentir, e deve este sentimento ser julgado? Deve este sentimento ser condenado por qualquer que este o seja? Há coisas que se devem deixar como estão, sem compreender, porque são inatas por mais que tentemos mudá-las, esquecê-las ou sequer disfarçá-las. Compreender sem sentir, sentir sem compreender.
Todos vivemos no nosso mundo, e enquanto isso o mundo não pára de girar, a vida passa e o tempo esgota-se. Futuro incerto que se aproxima, longa espera e interminável sensação que afecta a minha existência. Existência tão insignificante como o passar dos dias, afinal a incerteza faz parte da vida. A inexistência de algo é agoniante, a sensação do vazio que me aflige e que me transforma. Queria parar o tempo apenas alguns segundos para perceber tudo e deixar de entender o que realmente me preocupa, mas se tal fosse possível o tempo deixaria de existir e nada fazia sentido.
O facto de a maioria dos adolescente serem incompreendidos, deve-se talvez ao facto de quererem viver tudo ao máximo, cada momento como se fosse o último, como se o amanhã não existisse e não fizesse qualquer sentido, como se apenas o agora fizesse sentido e nada mais importasse. Apenas existe o momento, tudo o que fazemos é apenas no tempo presente e o tempo, eterno nosso rival, em colisão com o presente, criam uma atmosfera de mudança revelando como e só, apenas como é, uma ilusão. Ilusão criada pelo Homem para se esquecer do presente e viver em função do passado e do futuro, agarrando-se a coisas fúteis esquecendo-se muitas vezes da própria vida, de existir, de ser, de sentir, tentando compreender tudo e todos como se mais nada existisse, como se mais nada importasse. Sentir antes de compreender, talvez para a maioria, seja o lema desta tão curta e tão longa jornada do nosso mais intimo ser em constante evolução para algo que não faz qualquer sentido, um futuro tão incerto como a incerteza da verdade, um futuro ao qual fugimos como se de um monstro se tratasse, um monstro ao qual não podemos escapar, que nos persegue em todos os passos que tomamos, em sintonia com o presente, impedindo-nos muitas vezes de raciocinar, sequer pensar ou imaginar mais do que sentimos. Sendo muitas vezes dominados pela sensação, é apenas isso que importa e que nos faz querer mais, esperar mais, sentir mais, acordar pela manhã e sentir o sol no rosto, enquanto pessoas comuns vivem as suas vidas mesquinhas, com a sua rotina diária esquecendo-se do que são, porque aqui estão, ao que estão destinados… a uma vida de fachada onde todo o tempo é desperdiçado em função de nada, um nada que ao mesmo tempo rouba toda e qualquer força existente no ser humano, qualquer força que nos faça avançar, que nos faça pensar, evoluir, sonhar. Sonhos que completam o ser de cada um, aos quais dedicamos toda a nossa vida, toda a nossa alma, todo o nosso ser, muitas das vezes sem saber a razão ou o porquê, muitas das vezes vemo-nos tão envolvidos pela futilidade da vida que as coisas mais simples deixam de fazer qualquer sentido.
Esta vida não teria qualquer sentido sem o amanhecer, sem o pôr-do-sol, sem a constante mudança do tempo que nos molda a intensidade do momento, que nos faz sair do ninho e enfrentar esta vida miserável a que fomos sujeitos, como se de uma prisão se tratasse, como se vivêssemos em função de algo maior e mais poderoso que nos envolve a todo o instante, a todo o momento, como se estivéssemos a ser perseguidos, por algo muito pior que o mal, sem definição alguma, um desconhecido que nos eleva o medo, a frustração e o constante medo pelo amanhã, pelo hoje, pelo ontem, por todo o tempo que nos encontramos a respirar, a existir, a ser.
Talvez o medo, sim, talvez seja o medo que nos faz avançar e não recuar como a maioria dos mortais. É ele que nos faz enfrentar tudo e todos em busca do que ansiamos… sem definição ou compreensão aparente, como um instinto que nos domina e ao qual estamos sujeitos, um instinto que nos obriga a respirar.
Cada passo cada obstáculo. Passo por passo avançamos para algo que desconhecemos, algo que imaginamos enorme e temível, algo que nos transmitem que se transforma em medo, medo de progredir e avançar. Mas não é o medo que nos preocupa, mas sim o amanhã. Como ser, como estar, como agir… o que esperam de nós, o que nos forçam a ser, a razão para o qual existimos. Talvez queiramos dar os nossos próprios passos sem interferência de mais ninguém, sem um mestre a não ser nós mesmos, ou talvez apenas aprendendo com o passado, com o tempo. A distância que separa o ensinamento da experiência é enorme, e por mais que nos queiram ensinar só o compreenderemos realmente quando o sentirmos, quando a experiência se elevar e se cravar na nossa pele como uma ferida que não sara, como uma cicatriz que ficará para sempre no nosso eterno ser, no nosso eterno espírito, para toda a eternidade.
O erro da maioria dos mortais não é o agir, mas sim o pensar. O pensamento tornou-se um vício ao qual é quase impossível escapar, um vício que nos impede de viver e de sermos realmente quem somos. Quando deixarmos de pensar e sim sentir, quando o pensamento for separado do corpo, quando soubermos abstrairmo-nos da mente e ouvir o vento, o cair da chuva, sentir o sol a bater na cara, apenas sentindo sem qualquer pensamento que daí advenha, estaremos no bom caminho, o caminho para o encontro de nós mesmos. Muitas das vezes o que se julga perdido, encontra-se mesmo ao alcance de um toque ou de um olhar, apenas temos que aprender a observar, a sentir, ou até mesmo a nascer de novo. Encarar o mundo como se da primeira vez se tratasse, como se tivéssemos nascido de novo, é a forma mais correcta para viver esta vida, que nos foi concedida, mais intensamente…